“Está tudo bem não estar bem”. Quantas vezes alguém já falou essa frase em seu sentido literal? Será possível atualmente sentir-se mal, sem se culpar? Não estar bem vai além de um dia ruim ou receber uma notícia desagradável, por exemplo. Na verdade, trata-se de viver as dores e angústias, parte de nossa existência enquanto sujeitos. No entanto, quando esses sentimentos se tornam intensos, trazendo desconforto, mal-estar e sofrimento, eles impedem que as pessoas tolerem as frustrações diante de desejos não realizados.
“Uma das queixas mais presentes no consultório tem sido o sofrimento causado por desconfortos emocionais e frustrações em relacionamentos amorosos. Os pacientes chegam se sentindo muito culpados por estarem sofrendo, mas quando entendem que está tudo bem não estar bem, começam a abrir espaço para resolver suas questões psicológicas”, explica a psicóloga Tatiane de Sá Manduca, autora de dois livros sobre o amor.
Em dados gerais, hoje, 20,9% dos brasileiros recorrem a serviços privados de saúde mental e 16,6% ao setor público; as informações fazem parte do “Panorama da Saúde Mental”, do Instituto Cactus, em parceria com a AtlasIntel.
De acordo com a profissional, esses dados revelam e envolvem um movimento mais humano e urgente: não descartar nem naturalizar o sofrimento, mas sim validá-lo, conforme ela cita em seu livro ‘Valida-te’. “Muitas vezes, o que era para ser algo simples ou rotineiro vem carregado de pesar, pois como dita a internet ‘você pode tudo’, onde é propagado a felicidade constante. Não eliminar as experiências emocionais para quem sabe superá-las é o caminho para a permanente transformação”, complementa. A transformação é processo, mas muitos recorrem a dicas simples sobre a complexidade dos relacionamentos humanos e isso pode levar ao sofrimento psíquico e ao adoecimento mental, banalizando a experiência íntima, pois o imediatismo é parte do vocabulário do nosso tempo. Resultado: aumento na procura por apoio psicológico e consultórios cada vez mais cheios, diante do agravamento das patologias tidas como Ansiedades e Depressões.
Um dado curioso é que 75% da população brasileira considera relevante seu bem-estar mental, segundo o levantamento “World Mental Health Day 2023”, da Ipsos, empresa de pesquisa de mercado. No entanto, há diversas barreiras que dificultam o acesso das pessoas aos serviços de saúde mental. O estigma cultural em torno dessas questões, a falta de informação, o acesso limitado a profissionais qualificados, a restrição financeira para custear tratamentos e a longa espera por consultas são desafios ainda comuns e frequentes.
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“Buscar ajuda, seja através da conversa com amigos, familiares ou profissionais de saúde mental, é uma escolha saudável, pode ser terapêutica, mas não se trata de terapia. A jornada para o bem-estar muitas vezes envolve aceitar e enfrentar as emoções negativas, sem reprimi-las”, complementa Tatiane.
Se a experiência emocional é o que nos mobiliza, qual o destino de uma sociedade que tampona os afetos com negações onipotentes que furtam do indivíduo a realidade para lidar com as próprias questões?
De qualquer forma, é importante fazer o diagnóstico com o profissional e estar atento aos sinais de alerta que indicam quando alguém não está bem emocionalmente.
Como identificar que alguém não está bem?
Mudanças no comportamento: fique atento a mudanças abruptas no comportamento da pessoa, como isolamento social, irritabilidade ou apatia;
Alterações no sono e apetite: distúrbios de sono, insônia persistente ou alterações significativas no apetite podem indicar questões emocionais;
Expressões de tristeza ou desespero: comentários constantes sobre sentimentos de tristeza, desespero ou falta de propósito merecem atenção;
Declínio no desempenho profissional ou acadêmico: dificuldades persistentes no trabalho ou nos estudos podem estar relacionadas a problemas emocionais;
Falta de interesse em atividades anteriormente apreciadas: se a pessoa demonstra desinteresse em atividades que antes eram prazerosas, isso pode ser um sinal de alerta.
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Dicas para oferecer apoio e incentivar o bem-estar mental:
Incentive a comunicação aberta: crie um ambiente acolhedor para que a pessoa se sinta à vontade para compartilhar seus sentimentos e preocupações.
Sugira a busca por ajuda profissional: encoraje a pessoa a procurar a orientação de um profissional de saúde mental para um suporte mais especializado.
Promova um estilo de vida saudável: estimule hábitos saudáveis, como exercícios regulares, boa alimentação e sono adequado, que desempenham um papel vital no bem-estar emocional.
Destaque a importância do autocuidado: ressalte a necessidade de reservar tempo para atividades que tragam prazer e relaxamento.
“Aceitar nossos estados emocionais menos positivos não é sinal de fraqueza e, sim, de coragem e autoconhecimento”, conclui a psicóloga Tatiane de Sá Manduca.
Fonte: Tatiane de Sá Manduca é psicóloga e escritora, especialista em Psicoterapia, pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP. Em 2020 lançou seu primeiro livro, “Valida-te”, uma obra para quem busca aceitação e autenticidade e, três anos depois, foi a vez de “Será que é amor?”, em parceria com Saulo Durso Ferreira, trazendo uma série de casos clínicos de sofrimento por amor, analisados sob a ótica de filósofos e psicanalistas. A especialista fala sobre assuntos ligados ao amor, relacionamento, comportamento, autoconhecimento, gestão de ansiedade, estresse, depressão, entre outros.
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