Alimentação & Nutrição

Ansiedade e sua relação com a alimentação

Escrito por:Redação SO.U + Bem Estar |

Confira insights valiosos sobre como a ansiedade pode impactar a relação que temos com a comida

Vivendo em uma era marcada por constantes desafios e demandas, a ansiedade tornou-se uma presença comum na vida de muitas pessoas. Este estado emocional, muitas vezes subestimado, pode manifestar-se de diversas formas, influenciando não apenas o bem-estar psicológico, mas também aspectos físicos, como a alimentação. Nesta entrevista com a *Dra Carolina Mantelli Borges, exploraremos a complexa interação entre ansiedade e hábitos alimentares, desvendando como as emoções podem desempenhar um papel significativo nas escolhas que fazemos à mesa.

1- Como se define ansiedade e quais efeitos ela pode trazer para o comportamento de uma pessoa?

O dicionário define ansiedade como comoção aflitiva do espírito que receia que uma coisa suceda ou não; sofrimento de quem espera o que é certo vir; impaciência. Ou seja, é aquele nervosismo que antecede vários momentos da sua vida e que gera sensações estranhas – vazio no estômago, coração batendo rápido, aperto no peito, medo, etc. O significado mais aceito hoje em dia vem do psiquiatra australiano Aubrey Lewis que, em 1967, descreveu o termo como “um estado emocional com a qualidade do medo, desagradável, dirigido para o futuro, desproporcional e com desconforto subjetivo”.

Para os especialistas, é uma reação normal do organismo, que só vira problema quando passa a prejudicar o cotidiano. Fazer dieta é uma grande fonte de ansiedade, por exemplo. Dieta está ligada à punição, privação, frustração. É tudo ou nada – você faz e não come ou não faz e devora o que vê pela frente. Entre os principais sintomas estão a preocupação, tensão ou medo exagerado; sensação contínua de que um desastre ou algo ruim vai acontecer; preocupação exagerada com a saúde, dinheiro, família ou trabalho; medo exagerado de ser humilhado publicamente; falta de controle sobre pensamentos, imagens ou atitudes; dificuldade de concentração; fadiga; irritabilidade e perda de controle; pavor depois de uma situação difícil.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a ansiedade atinge mais de 10 milhões de pessoas no mundo e é mais comum entre as mulheres. Ela pode ser provocada por situações externas, como desastres naturais e acidentes, ou surgirem de situações de preocupação imaginária e, em geral, se manifesta repentinamente, começando por volta dos 25 a 30 anos. A pessoa ansiosa se preocupa por coisas que ainda não aconteceram. Com isso, ela fica estagnada por não conseguir tomar uma decisão.

Veja também: Como não negligenciar a ansiedade

2- Existem alimentos que aumentam essa sensação de ansiedade nas pessoas? quais são eles e por que isso acontece?

Sim! Certos alimentos podem levar à ansiedade; outros podem apaziguá-la. Primeiramente deve-se manter os níveis de açúcar estáveis no sangue, com a distribuição de pequenas refeições ao longo do dia. A cafeína e o álcool tendem a piorar a ansiedade e seus sintomas. Açúcar refinado e refrigerantes são os principais inimigos das pessoas ansiosas. Eles elevam os níveis de açúcar sanguíneo rapidamente, o que leva à irritabilidade, depressão e tensão. A ansiedade pode ser resultado de toxinas acumuladas no corpo e estresse.

3- E o contrário existe? alimentos que ajudam no controle da ansiedade? quais seria eles e por que isso acontece?

Também existe! Carboidratos complexos contêm serotonina (neurotransmissor com efeito calmante no cérebro). O consumo de cereais integrais (arroz ou farinha de trigo integral) nas refeições favorece o controle da ansiedade. Eles elevam o nível de açúcar no sangue, dando energia, bem-estar e disposição: Pães, arroz, aveia, feijão, massas, batata, mel, jabuticaba, uvas, maçãs fazem parte deste grupo alimentar. Ingira quantidades suficientes de vitaminas do complexo B, aumente a ingestão de levedo de cerveja, arroz integral e hortaliças verde-escuras. Alimentos fibrosos e iogurte com lactobacilos vivos ajudarão a melhorar a flora intestinal, o que será benéfico para a produção de serotonina via intestinal.

Cálcio e magnésio também acalmam o organismo, e ótimas fontes são encontradas em: algas marinhas, brócolis, couve, soja, nozes, salmão, sardinha, iogurte sem açúcar. Carnes e peixes: melhor fonte natural de triptofano, que em conjunto com a vitamina B3 e o magnésio produzem serotonina. Além disso, carnes e peixes contêm outro aminoácido chamado taurina, que aumenta a disponibilidade de um neurotransmissor chamado GABA, que o organismo usa para controlar fisiologicamente a ansiedade.

Consuma mais Frutas cítricas: Estudos provam que a vitamina C, diminui a secreção de cortisol (hormônio liberado pela glândula adrenal em resposta ao estresse! Ele também é responsável por transmitir essa “informação” do stress para todas as partes do corpo). Seu consumo promove o bom funcionamento do sistema nervoso e aumenta a sensação de bem-estar. Vitaminas e minerais, inclusive a vitamina C, são perdidas nos quadros de estresse e ansiedade, além de queda de açúcar no sangue (hipoglicemia).

Por isso, devemos suprir essas carências. Leite, ovos e derivados magros: ótima fonte de triptofano (um aminoácido), que alivia os sintomas de ansiedade. Quando no cérebro, o triptofano aumenta a produção de serotonina, hormônio da felicidade, que é um neurotransmissor capaz de relaxar e dar sensação de bem-estar. Aposte na Banana: estudo feito por pesquisadores do Instituto de Pesquisas de Alimentos e Nutrição das Filipinas comprovou que esta fruta ajuda no combate da depressão e alivia os sintomas da ansiedade graças ao alto teor de triptofano que a fruta carrega. Nao poderíamos esquecer do Chocolate que é rico em flavonoides, um antioxidante que favorece a produção de serotonina. Porém, cuidado: O recomendado são apenas 30 gramas de chocolate por dia. E de preferência ao chocolate amargo, bem menos calórico e mais rico em flavonoides.

Ansiedade e sua relação com a alimentação

©Vadym Petrochenko de Getty Images via Canva.com

4- Como é a interferência da ansiedade na alimentação de uma pessoa? como ela pode perceber isso?

O ganho de peso está diretamente relacionado com o funcionamento do cérebro e do sistema nervoso. Sendo assim, a ansiedade é uma das situações que elevam a produção de cortisol, o hormônio do estresse, que é o responsável por desencadear sensações de mal estar, além de contribuir para o acúmulo de gordura corporal. Além do fator físico, a mudança emocional causada pelo problema frequentemente leva a episódios de compulsão alimentar, em que o indivíduo, mesmo sem fome, tenta compensar o nervosismo por meio da comida.

Alimentos como chocolate e carboidratos são capazes de promover a sensação de bem-estar, aliviando a tensão; porem formando um círculo vicioso com a compulsão devido a culpa! A pessoa perde o controle do que ingere, tentando compensar, dessa forma, as pressões que sofre. Por isso acaba engordando. Se a ansiedade se torna algo muito presente no dia a dia, ela acaba impedindo a realização de ações cotidianas. Dificuldade de concentração, insônia, impaciência e perda de memória podem ser sintomas de que a ansiedade “passou do ponto”. O estado de ansiedade é caracterizado por não estar centrado no aqui e agora, e sim no futuro e a ansiedade patológica pode acarretar problemas como hipertensão, gastrite, dores de cabeça, cansaço e tensões musculares.

Veja também: Ansiedade: Como controlar?

5- A interferência da ansiedade na alimentação é um problema da sociedade moderna?

Há mais de 300 mil livros e 100 mil artigos médicos sobre o assunto, e o número aumenta todos os dias. Oito em cada 10 trabalhadores apresentam algum sintoma de ansiedade ao longo da carreira, segundo pesquisa de uma associação internacional. Em algum momento da vida, você vai sentir a sensação de que não vai dar conta das coisas. Não existe quem nunca tenha sofrido com a ansiedade. A ansiedade é o sentimento típico de quem vive no futuro, se preocupando com as coisas que ainda vão acontecer.

Todos os tipos de ansiedade podem ser tratados com remédios ou terapia; dá para conviver com a ansiedade pacificamente, e é isso que vai fazer a diferença na hora de reconhecer que nem tudo precisa ser motivo de preocupação o tempo todo. A organização mundial de Saúde afirma que o “Estresse” é uma “epidemia global”. Vivemos um tempo de enormes exigências de atualização. Somos constantemente chamados a lidar com novas informações.

O Ser Humano cada vez mais se vê diante de inúmeras situações às quais precisa adaptar-se. Como por exemplo diante de demandas e pressões externas vindas da família, do meio social, do trabalho/escola ou do meio ambiente. Porém fica difícil dizer que somos mais preocupados hoje em dia, porque não tínhamos tantos indicadores antigamente. E não podemos nos esquecer que vivemos hoje num tempo onde a psicologia e a psiquiatria têm um papel muito importante.

O que sabemos de fato, é que já se sofria fisicamente com esse mal. O poeta inglês do século 14 Thomas Hoccleve dizia que convivia constantemente com um “forte peso” dentro do peito, e há registros de pessoas que se sentiam “doentes de preocupação” já no século 18. Hoje em dia, a indústria farmacêutica faz de tudo para vender remédios. Tem muita gente se medicando com drogas psiquiátricas, então parece que todo mundo sofre com a ansiedade o tempo todo. Ou seja, não dá para saber exatamente se há mais pessoas ansiosas nos nossos dias ou se parece que somos mais ansiosos simplesmente porque sabemos que essa condição existe.

 

6- Quais são as suas dicas para que ansiedade e erros/exageros alimentares não andem mais juntos?

Troque a dieta por uma orientação personalizada, equilibrada e que se seja fácil de seguir! Não tente abreviar o processo bancando um faquir, pulando refeições ou jejuando para conseguir resultados mais rápidos. Além de não adiantar, sua ansiedade aumentará e você irá direto para o prato beliscar alguma coisa. Fome não é catástrofe! Quando ela aparecer, tenha calma. Não ataque o que tiver pela frente; Aceite a fome tranquilamente, como uma sensação saudável do organismo que você irá satisfazer com a comida que foi planejada.

Coma lentamente, fazendo pausas entre as garfadas e mastigue bem. Preste atenção na sensação de saciedade e pergunte-se: “ainda estou com fome?”; pense no estomago nesta hora e observe se o que está sentindo é fome ou ansiedade. Aceite seus escorregões e encare esses episódios com serenidade e calma; se caiu, levante-se e siga em frente! Falhas ocorrerão e deverão ser encaradas como oportunidades para aprendizagem e fortalecimento.

Não fique o dia todo pensando na dieta ou em comida; mesmo porque, você deve encarar a situação como um novo método de vida, e não algo somente temporário! Aprimore e descubra outros aspectos da vida, divirta-se, leia, encontre seus amigos. Aumente suas fontes de prazer! É normal sentir ansiedade diante situações novas e não previstas, portanto, planeje dentro do seu estilo de vida, horários aproximados e constantes para as suas refeições e programe o que irá comer. Você se acostumará a sentir fome nesses horários e conseguirá se controlar muito melhor! Reflita o que você espera do emagrecimento? Não espere resolver todos os seus problemas com uma silhueta mais fina.

O desapontamento pode ser grande e o resultado desastroso! Atente-se aonde você coloca suas expectativas! Verifique se não há uma ligação direta das dificuldades em resolver problemas no dia a dia com a comida. O único problema que a comida resolve é a fome. Os demais precisam de outras alternativas! Cuidado com os falsos padrões de beleza, que são inatingíveis, pois a busca de um falso objetivo vira angústia; portanto desenvolva uma identidade estética e seja você mesma!

Liberte-se do mito de peso ideal, pois isso não existe! Respeite o seu tipo físico, e convença-se que o peso é somente um “numero”! Desenvolva a autoestima, caso contrário, ficará sempre ansiosa e insatisfeita. Lembre-se que tão importante como ser ou estar bonita é sentir-se bonita. Beleza é uma questão de imagem e autoimagem. Cuidado com a “balançomania”. Pesar-se toda hora traz um enorme grau de frustração. Viva o dia de hoje. Ontem já foi e amanhã ainda não veio. Portanto, o tempo é hoje e agora. Valorize o que você faz. Não fique lamentando o que não fez ou o que deveria ter feito.

 

7- As pessoas costumam descontar na alimentação suas frustrações, angústias e problemas? o que fazer no dia-a-dia para aliviar isso? 

O ato de comer, além de fundamental para a nossa sobreviência, também é um ato de prazer. Levar o alimento à boca, sentir o sabor, a consistência e seu aroma pode provocar um turbilhão de sensações que vão da saciedade até o relaxamento. E aí que mora o perigo. Pessoas ansiosas muitas vezes exageram quando comem. Se comem demais, engordam. Se engordam, ficam incomodadas e ansiosas por não estarem satisfeitas com sua forma física. E aí, o que fazem? Comem mais para relaxar e diminuir a ansiedade. Tudo vira um círculo vicioso, pois a pessoa acaba desenvolvendo uma crença inadequada de que a comida será a solução dos problemas.

Pare de comer antes de ficar completamente satisfeito: Dê ao seu corpo tempo suficiente para que ele mande sinais ao cérebro que você já está quase satisfeito. Assim seu estômago poderá digerir a comida adequadamente, evitando assim a incômoda sensação de empanzinamento. Tente manter a mente “limpa” enquanto come e dê uma folga ao cérebro, mantendo o foco nos sabores e aromas de sua refeição. Assim você aproveita melhor o que está comendo, gozando de alguns momentos de tranquilidade. Ataques de ansiedade podem ser ocasionados quando estamos de “cabeça cheia”. Desta forma, a hora da refeição pode se tornar o momento ideal para relaxar e não estressar. A ansiedade muitas vezes é fruto da falta de informação: Procure saber o que lhe incomoda, o que lhe aflige. Converse. Quando não sabemos de algo, temos uma tendência natural a usar a imaginação e pensar em muitas coisas (quase sempre negativas) a respeito de algum assunto.

Veja também: Controlando o estresse e a ansiedade através do Yoga

*Dra Carolina Mantelli Borges – Médica Graduada Em Endocrinologia E Metabologia, Responsável Pela Endocrinologia Da Clínica Mantelli

Sobre o autor

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