A influência da saúde mental permeia todos os aspectos da sociedade, inclusive no ambiente de trabalho. De acordo com o “Índice de Bem-Estar Corporativo (IBC) do mercado” conduzida pela Zenklub, os cinco setores com pior desempenho foram bens de consumo e varejo (57,8), imobiliário (61,2), aviação (61,7), automotivo (62,2) e seguradoras (62,7).
“A velha ideia de romantizar o workaholic, de que quanto mais você rala, mais chances terá de receber reconhecimento, não respeitar os próprios limites (ou nem reconhecê-los) também contribui para exaustão, mas é injusto atribuir responsabilidades individuais quando o problema é sistêmico e quando o medo de perder a fonte de renda é maior do que a coragem de se preservar. Por outro lado, esperar que o sistema mude, no curto prazo, é quase ingênuo da nossa parte, o que nos traz de volta às esferas mais particulares”, explica a psicanalista e CEO do Ipefem (Instituto de Pesquisas & Estudos do Feminino e das Existências Múltiplas), Ana Tomazelli.
Essa situação contribui diretamente para o surgimento de condições como o burnout. Uma pesquisa da International Stress Management Association (ISMA) revela que o Brasil está em segundo lugar em número de casos diagnosticados, sendo superado apenas pelo Japão, onde 70% da população é afetada por esse problema.
Outra pesquisa realizada pela Vittude revelou que 33% dos colaboradores avaliados apresentaram algum tipo de transtorno mental em níveis severos ou extremamente severos. As patologias consideradas no estudo incluem ansiedade, depressão e estresse.
“As pessoas desenvolvem sintomas e doenças que juntos, podem ser lidos como Burnout, por esse motivo a causa da síndrome nem sempre será reconhecida de forma direta. Existem algumas variáveis responsáveis pelo adoecimento dos profissionais, como uma liderança que comete assédio, colegas que praticam bullying, cultura empresarial de performance com metas duras e inflexíveis, entre outros pontos que podem ser difíceis de serem levados à esfera judicial”, menciona Ana Tomazelli.
Adicionalmente, é importante destacar que as questões relacionadas à raça e ao gênero são fatores agravantes nesse contexto. Uma pesquisa conduzida pela Universidade da Geórgia revelou que 70% das executivas entrevistadas experimentavam sentimentos de fraude no ambiente de trabalho. Conforme outro estudo realizado pela consultoria de gestão KPMG, essa síndrome abala a confiança de 75% das mulheres no mercado.
“A jornada de trabalho excessiva, a discriminação de gênero e sobrecarga doméstica são algumas das causas de adoecimento mental das brasileiras em seus ambientes de trabalho”, ressalta a CEO e cofundadora da startup Plure, único portal de vagas do Brasil com foco em mulheres plurais, Jhenyffer Coutinho.
Cinco dicas para ambientes de trabalho mais saudáveis
Como as empresas podem colaborar para ambientes de trabalho mais saudáveis? Veja cinco dicas a seguir.
1) Espaço seguro para diálogo com os colaboradores: uma pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa de Estudos do Feminino (Ipefem) com mais de 200 participantes, mostra que apenas 37% dos profissionais se sentem totalmente seguros para discordarem da sua liderança no ambiente de trabalho. Já 63% manifestaram alguma ressalva ou receio de se posicionar quando discordam da liderança. “Esses números refletem a insegurança psicológica dos ambientes corporativos, considerando que a segurança psicológica não deveria ser algo negociável”, diz Tomazelli.
2) Combater o assédio no trabalho: o assédio físico, psicológico ou moral no trabalho viola os direitos humanos e prejudica a saúde mental e física. É obrigação da empresa detectar e buscar soluções para esse tipo de questão, combatendo atitudes de lideranças que cometem assédio, colegas que praticam bullying, cultura empresarial de performance com metas duras e inflexíveis, entre outros pontos.
3) Ambientes de trabalho seguros e saudáveis são um direito fundamental: a Organização Mundial da Saúde aponta que ambientes de trabalho seguros e saudáveis são um direito fundamental para todos. Quando acolhem seus trabalhadores, as companhias são mais propensas a melhorar o desempenho e a produtividade, além de minimizar tensões e conflitos internos que podem impactar na saúde mental.
4) Respeitar – e valorizar – a diversidade: os processos seletivos devem levar isso em consideração, bem como na contratação e na retenção dos talentos. A partir do momento que o quadro é mais diverso, é preciso também garantir o bem-estar dos colaboradores, sensibilizando lideranças e equipes para o combate a vieses inconscientes, destaca a CEO da Plure.
5) Melhora na qualidade de vida dos profissionais: cada vez mais, os colaboradores buscam muito mais do que apenas bons salários, e querem estar em uma empresa alinhada aos seus ideais, que disponibilizem um ambiente propício ao seu desenvolvimento, a novos aprendizados e que seja aberto ao diálogo. Seja no trabalho presencial ou remoto, a empresa deve se preocupar com o funcionário e promover sua satisfação, oferecendo condições adequadas de trabalho e equipamentos necessários – o que acarreta em aumento da produtividade também.
“As lideranças precisam pensar em ações voltadas à saúde mental dos seus colaboradores durante todo o ano e não somente em datas específicas. Cada colaborador é único e precisa ser tratado de acordo com as suas experiências de vida e individualidade”, conclui Ana Tomazelli.
Veja também: Revolução silenciosa: 38% dos afastamentos nas empresas são por motivos relacionados à saúde mental
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Ipefem
Fundado em 2019, o Instituto de Pesquisa de Estudos do Feminino e das Existências Múltiplas – Ipefem atua em três pilares, que podem acontecer coordenadamente ou individualmente: pesquisa, educação e terapia. Em Pesquisas, considera-se todas as modalidades técnicas de pesquisa que considerem recortes por gênero, orientação sexual e saúde mental. Em Educação, o instituto tem a Comunidade Ipê, uma plataforma de educação à distância, baseada em Lifelong Learning, dedicada a aulas expositivas e micro conteúdos de impacto. Em Terapia, o instituto já atendeu milhares de pessoas, oferecendo apoio terapêutico individual ou em grupo, podendo ser atendimentos gratuitos ou com valores simbólicos acessíveis. Saiba mais: https://ipefem.org.br/
Ana Tomazelli, psicanalista e CEO do Ipefem (Instituto de Pesquisas & Estudos do Feminino e das Existências Múltiplas), uma ONG de educação em saúde mental para mulheres no mercado de trabalho. Mentora de Carreiras, Executiva em Recursos Humanos, por mais de 20 anos, liderou reestruturações de RH dentro e fora do país. Com passagens pelas startups Scooto e B2Mamy, além de empresas tradicionais e consolidadas como UHG-Amil, Solera Holdings, KPMG e DASA (Diagnósticos da América S/A). Mestranda em Ciência da Religião pela PUC-SP e membro do grupo de pesquisa RELAPSO (Religião, Laço Social e Psicanálise) da Universidade de São Paulo, também é pós-graduada em Recursos Humanos pela FIA-USP e em Negócios pelo IBMEC-RJ. Formada em Jornalismo pela Laureate – Anhembi Morumbi.
Plure
A Se Candidate,Mulher!, agora com o nome Plure, é uma HRtech de recursos humanos especialista em conectar empresas a mulheres incríveis e plurais. A startup já impactou mais de 50 grandes companhias – incluindo players como Heineken, Samarco, Volvo, Ambev e PAM Saint-Gobain – oferecendo soluções em Recrutamento e Seleção que conecta o RH a mulheres Negras, PcD, LGBTI+, +50, Mães e mais recortes aumentado a diversidade na empresa. A plataforma da Plure é a única no mercado de contratação que conta com uma comunidade com mais de 250 mil mulheres. O objetivo da HRtech é levar Diversidade & Inclusão como estratégia de negócio para mais empresas, além de empregar meio milhão de mulheres até 2030. Saiba mais: https://plure.io/
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