O mês de Setembro é marcado por uma conscientização global sobre a prevenção do suicídio que transcende fronteiras, culturas e línguas. Um mês tingido de amarelo, não apenas pelas cores do outono em algumas partes do mundo, mas também por um propósito mais profundo e vital.
Esse é um período destinado a focar na prevenção ao suicídio e, mais amplamente, na abordagem sensível e franca a respeito da saúde mental. É um período que nos convida a enfrentar o tabu que envolve o suicídio e a oferecer apoio com compaixão e eficácia.
Nesse contexto de grande significado, a médica psiquiatra, Dra. Jéssica Martani, com anos de experiência e dedicação à área da saúde mental, compartilhou conosco informações valiosas sobre como identificar sinais de alerta e oferecer ajuda eficaz na prevenção ao suicídio.
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Como identificar sinais de alerta?
A identificação de sinais de alerta é crucial na prevenção do suicídio. Por conta disso, é importante estar sempre atento para identificar comportamentos e expressões verbais que possam indicar que alguém está enfrentando dificuldades emocionais sérias.
“Mudanças drásticas no comportamento, humor ou aparência, a pessoa dizer que quer desaparecer, fugir, sumir, por vezes dizer que a vida não tem sentido ou propósito, dizer adeus a pessoas como se fosse um último encontro”, afirma a Dra. Martani.
Ainda de acordo com a médica especialista, a pessoa ainda poderá apresentar outros sinais
- A pessoa começar a doar pertences;
- Falar sobre herança;
- Deletar redes sociais ou mesmo dar a senha para outra pessoa;
- Aumento do uso de álcool ou drogas;
- Fazer coisas inusitadas e fora dos padrões da pessoa;
- Isolamento social e retirada de atividades sociais.
Como abordar a pessoa em um momento tão delicado?
A abordagem sensível é fundamental quando se lida com alguém que pode estar em risco. A Dra. Jéssica Martani enfatiza a necessidade de ouvir atentamente, demonstrar empatia e evitar qualquer forma de julgamento.
“Podemos oferecer apoio doando nosso tempo, estando presente, ouvir o que a pessoa diz e ter empatia, é importante não julgar ou minimizar os sentimentos da pessoa, expressão como “mas sua vida é tão boa!” ou “Pare de falar isso” não ajudam e podem piorar a sensação de culpa”, afirma a médica.
Não tenha medo de perguntar diretamente sobre a possibilidade de suicídio, pois é importante saber se existe uma ideação suicida daquela pessoa. Além disso, busque ser um incentivador para procurar por um profissional da área como psiquiatras e psicólogos.
A especialista ainda indica manter contato e fazer um acompanhamento daquela pessoa. Contudo, “Evite prometer sigilo absoluto se houver risco iminente de suicídio, por vezes é necessário envolver amigos, familiares e por fim a melhor maneira de ajudar é marcar um psiquiatra e psicologo”, pontua.
Quais mitos envolvem o suicídio?
Muitos mitos cercam o tema do suicídio, o que pode dificultar a abordagem adequada. A Dra. Jéssica Martani destaca a importância de esclarecer esses equívocos. “Falar abertamente sobre suicídio não incentiva alguém a seguir por esse caminho. Pelo contrário, criar um ambiente onde se possa discutir o tema pode ser um alívio para quem está sofrendo”, explica.
Dentro deste contexto, é necessário compreender que expressões de ideação suicida não são meros pedidos de atenção, mas sim chamados por ajuda. Confira mais alguns mitos envolvendo a temática e esteja atento.
- MITO: “Sobreviver a uma tentativa de suicídio ou mostrar sinais de melhoras significa que a pessoa está fora de perigo”;
- MITO: “As pessoas com desejo suicida são sempre impulsivos e não mostram sinais de aviso”
- MITO: “Em todos os casos, o suicídio pode ser causado por fatores hereditários”
Um dos períodos mais críticos pode emergir logo após uma crise, especialmente quando uma pessoa encontra-se hospitalizada na sequência de uma tentativa de suicídio. A vigilância deve ser redobrada durante a semana subsequente à alta hospitalar, assim como ao longo do mês.
Vale ressaltar que a maioria dos casos de suicídio pode ocorrer após um planejamento prévio e frequentemente precedido por indícios das intenções do indivíduo. A impulsividade, por sua vez, é um aspecto que merece uma avaliação meticulosa através de escalas clínicas.
Uma vez que ela está associada a uma série de fatores, incluindo sofrimento psicológico em adolescentes, abuso de substâncias como álcool e estimulantes, bem como transtornos de personalidade e transtorno bipolar do humor.
A respeito da hereditariedade das tendências suicídas é possível dizer que nem todos os casos estão diretamente vinculados. Contudo, é essencial reconhecer que antecedentes familiares representam um fator de risco significativo, especialmente em famílias onde a depressão é recorrente.
Reconhecer e abordar esses e outros elementos é fundamental para prevenir tragédias e oferecer suporte adequado às pessoas em risco.
As redes sociais e a tecnologia podem impactar nesse cenário?
No cenário contemporâneo, as redes sociais e as inovações tecnológicas desempenham um papel de destaque na prevenção ao suicídio. “[Elas] podem ajudar na desmistifição em relação ao suicídio e podem [auxiliar] na divulgação de formas para ajudar”, pontua a especialista.
Porém, o compartilhamento de ideias e indicações deve ser feito com responsabilidade. Inclusive, o compartilhamento de histórias de superação pode contribuir para quebrar o silêncio e desfazer o estigma em torno do suicídio.
No entanto, o alcance da tecnologia vai além da conscientização nas redes sociais. A Dra. Martani destaca um aspecto notável: a crescente disponibilidade de aplicativos voltados para a saúde mental. “Existem alguns aplicativos que podem ajudar, por exemplo, os de meditação, os que rastreiam como está o humor, bem como gatilhos que podem contribuir com crises de ansiedade, etc”, afirma.
A evolução do contato paciente e profissional da saúde também está em constante evolução. É possível citar o advento da teleconsulta, que facilitou o contato rápido e direto com psiquiatras e psicólogos em momento de crise.
Quais são as abordagens eficazes para lidar com a estigmatização em torno do suicídio e doenças mentais?
“A psicoeducação desempenha um papel fundamental na desconstrução dos mitos que cercam a saúde mental e o suicídio. Quando buscamos entender melhor esses temas, somos capazes de desmistificar o tabu que muitas vezes os envolve”, comenta a psiquiatra.
Dessa forma, investir no compartilhamento de informações precisas sobre as causas, os fatores de risco e as estratégias de prevenção é muito importante. Você deve estar atento ao uso da linguagem. Esta deve ser empática e respeitosa. Sempre buscando criar um espaço seguro e sem julgamentos.
A maneira como abordamos o assunto pode influenciar significativamente a forma como ele é percebido pela sociedade. Ao adotarmos uma postura aberta e respeitosa, estamos contribuindo para a quebra de estigmas e, ao mesmo tempo, promovendo uma cultura de apoio mútuo.
Como familiares e amigos podem cuidar de sua própria saúde mental ao apoiar alguém em risco de suicídio?
Cuidar da própria saúde mental enquanto se oferece apoio a alguém em risco de suicídio é de extrema importância para garantir que os cuidadores também se mantenham resilientes e capazes de fornecer auxílio eficaz.
Nesse sentido, estabelecer limites saudáveis para o próprio envolvimento é crucial, reconhecendo que nem tudo está sob nosso controle e que estamos sempre dando o nosso melhor. Compreender que, apesar do amor que sentimos pela pessoa em risco, não podemos controlar suas ações.
Cada indivíduo trilha um caminho único, muitas vezes, além do alcance de nossa influência. Investir na própria educação é transformador, pois por meio de fontes confiáveis e informações embasadas, os cuidadores podem adquirir um entendimento mais profundo sobre o tema, capacitando-se para prestar auxilio de maneira mais eficaz e sensível.
Como a jornada de recuperação funciona após uma tentativa de suicídio?
Após uma tentativa de suicídio, a jornada de recuperação é um processo complexo e individual. Sobreviver a esse momento crítico significa embarcar em uma jornada de reconstrução emocional e mental.
A continuidade do cuidado é um elemento-chave nessa trajetória, pois a recuperação plena requer um apoio abrangente. Isso envolve não apenas o apoio profissional, com a intervenção de psicólogos, terapeutas e psiquiatras, mas também o apoio pessoal de amigos e familiares.
A recuperação não é linear e pode envolver altos e baixos. A pessoa pode enfrentar sentimentos de culpa, vergonha, tristeza e confusão. O processo pode incluir terapia individual ou em grupo, medicação, aquisição de habilidades de enfrentamento saudáveis e a exploração das causas.
A jornada de recuperação pode ser longa, mas cada passo em direção à cura é um triunfo. O apoio das pessoas ao redor, combinado com intervenção profissional, auxilia a pessoa em recuperação a reconstruir sua vida com esperança e determinação.
Como é possível buscar ajuda?
Além do apoio vital proporcionado por amigos e familiares, é essencial reconhecer a importância dos recursos profissionais. “O melhor é buscar apoio de um psiquiatra, pois ele vai saber conduzir o caso da melhor maneira, juntamente com um psicólogo. Também podemos citar o CVV no Brasil”, enfatiza a Dra. Martani.
Dessa forma, profissionais especializados na área possuem o conhecimento necessário para compreender a complexidade de cada caso e direcionar o tratamento com a melhor abordagem clínica.
O Centro de Valorização da Vida (CVV), citado pela médica, oferece um espaço seguro e confidencial para conversas por telefone (188), chat e e-mail. O serviço, conduzido por voluntários treinados, é uma rede de acolhimento em momentos críticos.
A busca ativa por apoio é uma demonstração de comprometimento com a própria saúde mental e bem-estar emocional. Iniciar a busca pelo tratamento é essencial e continuar com a prática até a alta efetiva é fundamental.
A prevenção ao suicídio é um compromisso coletivo. Ao identificar os sinais de alerta, promover o diálogo aberto e oferecer apoio profissional, estamos dando passos concretos para salvar vidas. Compaixão, empatia e educação são nossas armas contra esse desafio global.
Veja também: A atividade física e a saúde mental
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