Além de representar o final do ano, dezembro é um mês de conscientização. O “Dezembro Vermelho” promove uma campanha de luta contra a desinformação e o preconceito em relação ao HIV. O objetivo é estimular a prevenção e o diagnóstico.
No texto a seguir, o Dr. Ricardo Vasconcelos*, infectologista e trabalha diretamente com pacientes com o vírus, compartilha um pouco do seu conhecimento para ajudar no compartilhamento de informações de qualidade. Acompanhe a leitura!
O que é HIV?
O HIV é um retrovírus e a sua sigla, traduzindo para o português, significa vírus da imunodeficiência humana. Ele é o causador direto da AIDS, doença que atinge o sistema imunológico do indivíduo — agindo diretamente na defesa do organismo.
O sistema imunológico é o defensor do nosso corpo, ele age diante de ataques de bactérias, vírus, entre outros. Assim, é uma espécie de barreira feita de células diferentes, com funções distintas e em cada corpo existem milhares.
Fazendo parte desse sistema estão os linfócitos T-CD4+. Eles são glóbulos brancos responsáveis pela organização de uma ação para combater agressores. Eles memorizam o agente estranho, a sua composição e passam a reconhecê-los no organismo.
No entanto, após a infecção, o HIV se multiplica no corpo da pessoa, atingindo, principalmente, esses linfócitos. Com isso, sem o devido tratamento e diagnóstico precoce, as defesas do corpo vão enfraquecendo e passam a perder a sua força de resposta às ameaças.
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Como ocorre a transmissão do vírus?
A transmissão ocorre por meio de pessoas soropositivas sem tratamento contínuo ou sem diagnóstico — podendo ter ou não Aids. Esse vírus é propagado por diversas formas, confira a seguir:
1. Relações Sexuais
De acordo com o Dr. Ricardo Vasconcelos, “sexo com penetração vaginal e anal são as duas vias de transmissão mais frequentes no Brasil”. Por isso a importância da camisinha feminina ou masculina. Mas além da camisinha temos também as profilaxias pré e pós-exposição para a prevenção dessa infecção.
2. Transmissão vertical
Ela acontece quando uma gestante tem HIV e não segue o tratamento adequado. Dessa forma ela transmite o vírus para a criança. “A infecção poderá acontecer durante a gestação, parto e amamentação”, comenta o especialista.
Mas, atualmente, existem meios de prevenção para que as chances de o vírus ser passado de mãe para filho sejam ínfimas. Portanto, é importante realizar o pré-natal desde o início da gestação ou descoberta.
Além disso, é necessário realizar um acompanhamento adequado com um médico especializado para reduzir as chances de transmissão do vírus.
3. Compartilhamentos de seringas
As seringas devem ser de uso individual e descartadas logo após a utilização. O seu compartilhamento pode causar transmissão do HIV e outras infecções nocivas ao organismo.
4. Transfusão de sangue
Receber uma bolsa de transfusão de sangue infectado também pode causar a transmissão do HIV. No entanto, é necessário ressaltar que, com a triagem atual feita nos Bancos de Sangue, as chances disso acontecer são muito baixas.
Quais são os primeiros sintomas de uma infecção por HIV?
Primeiro é importante normalizar exames regulares que identificam ISTs. Algumas infecções não são perceptíveis com sintomas claros. Apenas com análise de sangue, saliva ou mucosas é possível fazer a identificação.
O diagnóstico precoce é um passo importante para garantir uma boa qualidade de vida para as pessoas que apresentam sorologia positiva. Ele eleva a qualidade e expectativa de vida e, com o tratamento, impede a transmissão para novos indivíduos e o desenvolvimento da Aids.
De acordo com o Dr. Ricardo Vasconcelos, os sintomas do HIV são bem sutis, podem facilmente passar despercebidos. “3 ou 4 semanas após a infecção, a pessoa fica doente com febre, dor de cabeça e garganta, podendo ter diarreia e/ou manchas na pele. Isso é o que a gente chama de infecção aguda por HIV. Ainda que a pessoa não busque um atendimento e não faça o diagnóstico, isso passa dentro de alguns dias”, explica.
Após o contato inicial com o HIV, a pessoa entra em uma fase de infecção latente. “O vírus está lá, mas, no momento, não está fazendo mal à saúde. Depois de alguns anos, em alguns casos após 10 anos, o HIV entra na fase que chamamos de Aids”, salienta o Dr . Ricardo Vasconcelos.
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Como é o diagnóstico e o tratamento?
De acordo com o Dr. Ricardo Vasconcelos, podem ser feitos exames de sangue ou de saliva que buscam por anticorpos que o corpo da pessoa produziu contra o HIV”. Nesse cenário é feito uma procura por anticorpos anti-HIV.
“Esses anticorpos começam a aparecer depois de 4 semanas que a pessoa foi infectada. Esse período, que é o que demora até a gente conseguir o diagnóstico, é o que chamamos de janela imunológica. Então não adianta eu ter uma relação sexual sem camisinha hoje e amanhã buscar um teste para saber se eu me infectei. Não é tão rápido que aparece o anticorpo no sangue”, destaca o especialista.
Para identificar uma possível infecção é indicado que seja realizado um exame de sangue ou teste rápido que são ofertados em laboratórios particulares bem como no Sistema Único de Saúde (SUS).
Para obter maiores orientações a respeito disso, você pode entrar em contato com o serviço de atendimento que é ofertado à população por meio do telefone 136.
O teleatendimento poderá fornecer informações sobre doenças, e locais para a realização de exames, pelo SUS, para identificar uma possível infecção por HIV. Ele funciona 6 dias por semana (segunda à sexta-feira), de 8 às 20 horas e aos sábados de 8 às 18 horas.
O tratamento é feito com uma associação de medicamentos antirretrovirais, que são aqueles que impedem que o vírus se multiplique no corpo da pessoa. “A gente não faz com que o HIV desapareça. Ele ainda está no organismo, mas não está se multiplicando e ao impedir isso, o vírus fica impossibilitado de fazer mal a saúde da pessoa”, ressalta o infectologista.
É possível ter uma vida saudável com HIV?
“Uma pessoa que vive com HIV, que faz todo o tratamento previsto para essa infecção, é uma pessoa que vai ter uma vida muito parecida com a que ela teria se não tivesse sido infectada. Em termos de expectativa de vida e qualidade de vida. Mas vai ser idêntica? Não, pois ela vai ter que tomar um remédio diário e vai ter que fazer acompanhamento médico com rotina de coleta de sangue”, afirma Dr. Ricardo Vasconcelos.
Um dos impactos mais identificados por pessoas que vivem com HIV é o preconceito. A discriminação ainda existe e essas pessoas são alvos de muitos julgamentos, mas a verdade é que todos que possuem uma vida sexualmente ativa podem ter a infecção.
A sorofobia é uma realidade na vida de milhares de brasileiros e brasileiras que vivem com HIV. Além de se adaptar à nova rotina, também precisa enfrentar a desinformação e o preconceito.
Dentro de todo esse contexto, campanhas como o Dezembro Vermelho são de suma importância. O seu papel é fundamental para a conscientização e para pôr fim ao preconceito em torno do tema.
*Dr. Ricardo Vasconcelos CRM/SP 116.119 |É Médico Infectologista Pesquisador da FMUSP | Instagram @ricovasconcelos | Twitter @euricomendo | Coluna no UOL: ricovasconcelos.blogosfera.uol.com.br
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