Você já ouviu falar em fertilização in vitro?
Com a evolução da ciência atualmente podemos formar um embrião em laboratório, cultiva-lo até 7 dias de vida e inclusive analisar se o embrião é geneticamente normal antes de colocá-lo em um útero. Décadas atrás seria impossível imaginarmos que isso estaria disponível para nós seres humanos.
Essa técnica é utilizada para permitir que casais ou indivíduos que naturalmente não conseguiriam engravidar (por diferentes motivos) possam constituir família. Estima-se que 10 a 15% dos casais no mundo tenham alguma dificuldade para engravidar e necessitarão de algum tratamento de Medicina Reprodutiva.
Esse número tende a aumentar se considerarmos que as pessoas tem postergado cada vez mais a maternidade ou paternidade além do fato que novos tipos de casais são cada vez mais frequentes. Nesse ponto a Medicina Reprodutiva (e principalmente o subtipo de tratamento Fertilização in Vitro) poderá ajudar um número cada vez maior de pessoas.
Com objetivo de simplificar a temática, neste artigo você entenderá o que é, de fato, a fertilização in vitro, como é o seu processo, quais são seus tipos e quem pode fazê-la. Para falar profundamente sobre esse assunto, o Dr. Luiz Fernando Henrique*, sócio-fundador da Clínica Originare, especialista em reprodução humana, fala sobre.
O que é fertilização in vitro (FIV)?
Fertilização in vitro é uma técnica de Reprodução Assistida que consiste na união de óvulos e espermatozoides em um laboratório de embriologia, seguido pelo cultivo do embrião ou embriões em incubadoras específicas para tal finalidade.
Através da FIV, alterações como tubas uterinas obstruídas, disfunções ovulatórias, baixa concentração de sêmen, dentro inúmeros outros motivos pelos quais indivíduos não conseguem engravidar naturalmente, são transpostas, permitindo que muitas famílias sejam formadas.
Como é o processo de fertilização in vitro?
Agora que você sabe o que é fertilização in vitro, é momento de compreender o funcionamento do processo. Confira as etapas!
Indução da ovulação
O primeiro estágio da fertilização in vitro é a indução da ovulação. É nele que a mulher tem seu período ovulatório hiperestimulado para a coleta do maior número possível de óvulos.
O Dr. Luiz Fernando explica que esse processo de indução da ovulação ocorre pela “aplicação de algumas injeções ou comprimidos que irão hiperestimular os ovários da mulher”.
Além disso, o médico detalha que esta etapa dura de 10 a 12 dias. Enquanto isso, a paciente precisa fazer três ou quatro ultrassons para acompanhar o crescimento dos folículos do ovário — para saber se eles já estão aptos a serem coletados.
Coleta de óvulos e fertilização in vitro
Após o estímulo, a segunda etapa da fertilização in vitro será a coleta dos óvulos. O Dr. Luiz Fernando detalha como é feito esse processo:
“Feito sob sedação, o procedimento dura em média 20 minutos dentro da clínica de reprodução assistida. Por meio de um ultrassom transvaginal e o uso de uma agulha específica, é possível atingir o ovário da paciente e aspirar individualmente os folículos que cresceram”.
Após a coleta, os óvulos são fertilizados. Ou seja, no laboratório realiza-se a união entre óvulo e espermatozoide — fertilização).
Além de entender o procedimento, vale a pena saber que existem diferentes formas de se fertilizar os óvulos:
FIV convencional
A fertilização in vitro convencional consiste em preparar o sêmen e deixar que a natureza defina qual espermatozoide que penetrará a membrana do óvulo e o fertilizará.
FIV com injeção intracitoplasmática de espermatozoides
Neste tipo de fertilização in vitro, o embriologista escolhe um espermatozoide específico dentre os vários disponíveis para que ele, embriologista, injete um único espermatozoide dentro do óvulo.
Transferência de embriões
Após as duas primeiras etapas, acontece o cultivo de embriões em incubadoras que, a 37 graus Celsius, utilizam um meio de cultura que nutre os embriões e proporcionam o desenvolvimento desses por 5 a 7 dias.
Com os embriões cultivados, ocorre a última etapa da fertilização in vitro, que é a transferência de embriões. É um procedimento que, normalmente, não precisa de anestesia e ocorre por meio de uma seringa que vai até o interior da cavidade uterina.
O médico destaca que essa última etapa pode ser feita dentro do mesmo ciclo (transferência de embriões frescos) ou pode-se optar por congelar esses embriões. O congelamento de modo geral é feito por dois motivos: para aguardar um melhor momento do ponto de vista hormonal para a mulher receber o(s) embrião(ões) ou para se realizar uma análise genética do(s) embrião(ões).
Quais são os indivíduos que podem se beneficiar da Fertilização In Vitro?
A maioria dos tratamentos são feitos para auxiliar casais heterossexuais que apresentam diagnóstico de infertilidade. Esse diagnóstico pode ser devido a um problema da mulher, do homem ou de ambos.
Porém, as técnicas de Medicina Reprodutiva também podem, por exemplo, também auxiliar casais homoafetivos femininos, masculinos ou proporcionar também a produção independente tanto de mulheres quanto de homens (quando um indivíduo sem parceiro ou parceira opta por ter um filho).
Exemplos de tratamentos dentro desse contexto são:
FIV com óvulos doados
Feito em casais que não podem utilizar o material genético da mãe, este tipo utiliza óvulos doados por terceiros para ocorrer a formação do embrião, para que depois seja colocado no útero.
Esta categoria é recomendada para mulheres menopausadas, com idade avançada, com aborto de repetição, dentre outras indicações.
FIV com espermatozoides doados
O tipo é aplicado a casais em que o homem possui problemas na qualidade ou quantidade dos espermatozoides recorrendo-se, portanto, a sêmen de doador.
Além disso, a fertilização in vitro com espermatozoides doados também é utilizada em casais homoafetivos feminino e na gestação monoparental feminina.
FIV com útero de substituição
Popularmente conhecido como “barriga de aluguel”, neste tipo de tratamento uma mulher “empresta” seu útero para que um casal (ou indivíduo) que tem alguma doença uterina ou não tenha útero possa ter um filho.
Existem riscos na fertilização in vitro?
A fertilização in vitro é um procedimento muito seguro, mas não é isento de riscos, mesmo que extremamente raros. Dentre eles são:
- Processos alérgicos às medicações utilizadas
- Sangramento abdominal pós-coleta de óvulos: complicação em que, na extrema maioria das vezes que ocorre, é autolimitada, mas que eventualmente pode ser necessária uma laparoscopia para cauterizar o vaso sanguíneo causador do sangramento.
- Síndrome do Hiperestímulo Ovariano: complicação extremamente rara nos dias atuais devido à evolução do entendimento da fisiologia reprodutiva da mulher.
A FIV sempre dá certo?
Como dito anteriormente, a fertilização in vitro é um dos métodos de reprodução assistida mais eficazes. No entanto, não é sempre que ela irá funcionar.
Inclusive, existem muitos fatores que podem impactar no sucesso do método. “Quanto maior for a idade da mulher, menos óvulos ela produz e de menor qualidade eles serão, fazendo com que a taxa de sucesso da fertilização in vitro seja menor”, explica o médico.
Porém, o especialista ressalta que além da quantidade e da qualidade dos óvulos, é necessário um útero saudável para o tratamento ser bem-sucedido. Algumas doenças uterinas podem dificultar a implantação de um embrião.
As chances de sucesso não dependem apenas das mulheres. A qualidade do sêmen também é importante e fatores como tabagismo, sedentarismo, estresse e sobrepeso podem diminuir sua qualidade e reduzir as taxas de sucesso do tratamento.
Quais são os cuidados pré e pós-procedimento?
“Antes da mulher começar o tratamento da fertilização in vitro, é importante que os profissionais tenham uma avaliação clínica geral dela, para descartar doenças como hipertireoidismo, diabetes, hipertensão e até mesmo procurar melhorar a dieta se for necessário”, reforça o Dr. Luiz Fernando.
Além do mais, ele também revela que é importante fazer uma investigação do motivo da infertilidade da paciente ou do casal: exames de imagem como Ultrassom e/ou Ressonância Magnética; exames de sangue que avaliam características genéticas, reserva ovariana; espermograma, dentre inúmeros outros.
“A avaliação adequada da causa da infertilidade é fundamental para um tratamento individualizado ser proposto e para que as expectativas em relação ao sucesso do tratamento sejam equalizadas”, explica ele.
Enquanto ao pós-tratamento, ou seja, após haver a transferência embrionária, o especialista diz que é importante evitar atividade física com impacto e manter o uso adequado dos medicamentos prescritos. Contudo, o médico lembra que a mulher pode manter sua vida cotidiana bem ativa.
Quais fatores ajudam no sucesso do tratamento?
A saúde física é um fator muito importante para o sucesso no tratamento da fertilização in vitro. Alimentação saudável, reposição de vitaminas, evitar hábitos como sedentarismo e tabagismo e combater o sobrepreço são fatores que podem ajudar a ter um resultado positivo.
O mesmo serve para os homens, visto que hábitos que fazem mal à saúde são fatores que podem atrapalhar a produção saudável e adequada de espermatozoides.
Existe uma seleção de embriões para a implantação?
O Dr. Luiz Fernando explica que, em algumas situações, há a indicação de se realizar uma biópsia do embrião e analisar geneticamente se ele é normal ou alterado.
Mulheres com idade acima de 38 anos, com falhas anteriores em tratamentos de fertilização in vitro, aborto de repetição, são situações em que essa análise genética pode ser benéfica. “A transferência de um embrião normal geneticamente oferece maior chance de sucesso e mais segurança ao tratamento, uma vez que reduz drasticamente o risco de nascimento de uma criança com alguma síndrome”, diz o especialista.
Óvulos podem ser congelados para uso futuro?
No âmbito da fertilização in vitro, um tema cada vez mais popular é o congelamento de óvulos. Especialmente em grandes cidades, é cada vez mais usual ver mulheres optando por postergar a gravidez por motivos profissionais ou na busca do parceiro ideal para compartilhar a criação.
Nesse sentido, o congelamento de óvulos é uma excelente opção. No procedimento, óvulos são retirados dos ovários de uma mulher, congelados e armazenados até que ela esteja pronta para engravidar.
Apesar de muitas mulheres possam ficar inseguras no assunto, o processo é seguro. “Uma vez congelados, os óvulos mantêm a qualidade. Essa pode ser uma opção para aquelas mulheres em busca de preservar sua fertilidade para terem uma chance melhor de uma gravidez futura”, finaliza o Dr. Luiz Fernando.
Veja também: Congelamento de óvulos: 5 coisas que você precisa saber
*Dr. Luiz Fernando Henrique é médico formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e concluiu a residência em Ginecologia e Obstetrícia pelo Hospital das Clínicas da mesma Faculdade em 2009. Especializou-se em Cirurgia Minimamente Invasiva, sendo membro do setor de endometriose do HC-FMUSP até 2014.
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