As atividades físicas, em todas as idades, são essenciais para o bem-estar e maior qualidade de vida, sendo indicadas para atletas ou não. Os benefícios são incontáveis e atingem todo o organismo humano, do físico ao psicológico. Porém, por diversas vezes e diferentes motivos, é possível que ocorram acidentes que geram lesões.
Ainda que, pelo menos no Brasil, ouçamos mais sobre esses eventos relacionados ao futebol, todas as modalidades esportivas podem ocasioná-los como o surf. “Nesse esporte, lesões no joelho, por exemplo, apesar de mais raras, podem acontecer principalmente no Menisco e no Ligamento Cruzado Anterior. Isso acontece principalmente em situações nas quais as ondas são mais rápidas e/ou tubulares. Se o atleta entra atrasado na onda e não rema rápido o suficiente, pode sofrer uma queda do alto da onda e se chocar com a prancha, causando a lesão”, diz Dr. Pedro Baches Jorge, ortopedista especialista em Medicina Esportiva.
O surfista brasileiro, Caio Ibelli, sabe bem da possibilidade desses acidentes, e conta, diretamente da Austrália, sobre lesões já sofridas, em especial, uma em 2018. “Durante minha carreira tive diversas lesões, entorses de todos os lados. Mas, a que mais marcou foi quando quebrei o pé (metatarsal), em 2018, durante um treino. Ouvi um estalo alto e senti muita dor”, relata o atleta de 27 anos.
Sobre a fratura, o ortopedista Dr. Bruno Lee, especialista em pé e tornozelo, explica: “O tipo de lesão sofrida por Caio é mais comum em acidentes ocorridos em atividades terrestres, sendo menos comuns em atividades aquáticas. As fraturas e luxações dos metatarsos, geralmente, ocorrem por traumas torcionais, cuja força se concentra na região média do pé, ou seja, no mediopé”. O médico completa que “a maior gravidade do caso dele é devida ao fato de realizar um esporte de altíssima performance, o que gera maior stress mecânico, traumas de maior energia e, portanto, lesões mais graves”.
O atleta da Liga Mundial de Surf acrescenta que, no momento, a equipe médica no local, não constatou que o osso havia quebrado. “Fizeram uma rápida análise e acreditaram ter sido apenas uma entorse da articulação de Lisfranc (conjunto de 5 articulação na base de 5 dedos do pé), então não pediram pelo exame de imagem. Acabei insistindo e descobri a lesão pelo raio-x no dia seguinte”.
Quando praticantes de esporte, principalmente os que participam de competições, sofrem algum tipo de lesão, uma preocupação é comum: se irá impedir as atividades permanentemente. Com Caio, não foi diferente. “Da lesão em si, não tive medo. Aguardei seis semanas para ver como seria o processo de cicatrização. Meu medo começou quando o médico informou que seria necessária uma cirurgia. Temi que algo pudesse dar errado e fiquei com a incerteza se poderia surfar novamente como antes. Quando você ama o que faz, não tem como isso não passar na sua cabeça em um momento desse”.
Dr. Lee conta que nem todos os casos desse tipo de fratura, exigem cirurgia. “Existem critérios objetivos para determinar se haverá necessidade, como medidas de distância entre os fragmentos e graus de desvio dos mesmos, determinando com muita precisão a necessidade do tratamento cirúrgico”.
O mais importante é que o surfista conseguiu retornar as ondas, após um processo de cinco meses de recuperação. “A pior parte foi o pós-operatório, por precisei ficar 15 dias em uma cama. Para um atleta ativo, essa parte é bem difícil. Logo na sequência, iniciei fisioterapia, que durou cinco meses, sendo entre 3 e 5 vezes por semana. Com isso, meu tempo foi ocupado e pouco depois, já podia surfar deitado por mais 30 dias. Até que chegou a hora de voltar ao esporte”, conta.
Sobre esse processo, Dr. Lee diz que, normalmente, o tempo médio de consolidação óssea e de cicatrização do ligamento é de 6 a 8 semanas, e dá mais detalhes: “As sessões de fisioterapia são feitas para que haja recuperação da amplitude de movimento e da força muscular. A prática deve ser associada à retirada temporária de carga, com retomada progressiva da mesma. Da mesma forma, as atividades físicas podem ser retomadas progressivamente, de acordo com a capacidade física, grau de reabilitação e intensidade da atividade do paciente. Ou seja, o retorno ao esporte deve ser individualizado”, explica Dr. Lee.
Caio ainda diz que a primeira competição aconteceu após, apenas, 8 meses, na opinião dele, muito cedo. “Não estava preparado para competir naquele nível depois da lesão que sofri. Em março de 2019 foi quando eu comecei a esquecer um pouco do tornozelo, por não sentir tanta dor. Ainda assim, havia o medo de machucar de novo. Somente em julho senti que estava totalmente recuperado”.
Apesar do susto, admiradores de surf do Brasil e do mundo, alegram-se em poder continuar acompanhando a carreira de Caio Ibelli.
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