Na busca incessante por sucesso e realização profissional, muitos indivíduos encontram-se envolvidos em uma paixão intensa pelo trabalho. Embora esse comprometimento seja muitas vezes celebrado, é crucial abordar a linha tênue entre amor pelo trabalho e a paixão que sugere uma obsessão sem limites prejudicial à saúde mental. Esse cuidado merece atenção maior ainda em clima de final de ano, quando há uma certa tendência de acúmulo de stress e tarefas.
Horas intermináveis, a intensa busca pela perfeição e a incapacidade de se desconectar do trabalho são sinais da paixão; preocupação constante que prejudicam o sono, a necessidade em manter-se disponível o tempo todo, dificuldades no sono e alteração do ritmo biológico.
Para se ter uma noção, de janeiro a julho de 2023, foram concedidos 129.185 benefícios por incapacidade temporária (antigo auxílio-doença), em todo o Brasil, devido a Transtornos Mentais e Comportamentais (Capítulo V da CID 10); os dados são do Instituto Nacional do Seguro Social – INSS.
“A paixão doentia pelo trabalho é uma pandemia silenciosa que afeta profissionais em todos os setores. O estigma associado à busca por ajuda e o medo de ser percebido como menos comprometido muitas vezes impedem a busca de suporte, deixando as consequências para a saúde mental crescerem silenciosamente”, comenta a psicóloga clínica Tatiane de Sá Manduca.
Sinais de Alerta
Quando o trabalho começa a se tornar o centro da vida de alguém, há alguns problemas que podem surgir, ao longo do tempo, como: burnout, ansiedade e depressão. Essas condições podem se instalar, prejudicando não apenas o indivíduo, mas também o ambiente de trabalho e, por extensão, a produtividade geral.
Uma das consequências mais comuns é negligência das necessidades pessoais e sociais, além da incapacidade de desconectar-se dos afazeres profissionais. “Esses sinais silenciosos não devem ser ignorados, pois podem evoluir para problemas de saúde mental mais sérios”, complementa Tatiane.
O caso mais comum a ser citado é a Síndrome de Burnout. Ela é marcada pelo esgotamento físico, emocional e mental decorrente do estresse crônico no ambiente de trabalho, e foi oficialmente reconhecida como uma doença ocupacional pela Organização Mundial de Saúde (OMS) desde o início de 2022. De acordo com uma pesquisa conduzida pela Internacional Stress Management Association (ISMA), o Brasil figura como o segundo país com o maior número de casos diagnosticados, sendo ultrapassado apenas pelo Japão, onde 70% da população é impactada por essa problemática.
“É hora de desafiar a narrativa que vincula o sucesso exclusivamente à dedicação extrema. A verdadeira prosperidade está enraizada na criação de uma cultura que reconhece a importância do autocuidado, abraça a diversidade de habilidades e promove um ambiente de trabalho sustentável”, conclui a psicóloga Tatiane de Sá Manduca.
Assim, o descanso do trabalho é vital para a saúde mental, oferecendo recuperação do estresse, equilíbrio entre vida profissional e pessoal, melhorando a concentração e produtividade, prevenindo o burnout, aprimorando a qualidade do sono, estimulando a criatividade, fortalecendo relações pessoais e, essencialmente, promovendo o bem-estar emocional.
Veja também: Burnout: 7 curiosidades (surpreendentes)
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