O Dia Mundial do Câncer, em 4 de fevereiro, é a data designada pela União Internacional para o Controle do Câncer (UICC), com o apoio da Organização Mundial da Saúde (OMS), para disseminar informações sobre prevenção e controle da doença. Uma das principais questões relacionadas a um possível diagnóstico é como comunicar a difícil notícia aos filhos.
É comum que a dinâmica familiar se modifique para atender às novas necessidades e prioridades do tratamento, gerando apreensão em algumas pessoas. A maneira como essa situação é abordada com as crianças pode influenciar não apenas a compreensão do problema por parte delas, mas também o futuro da família.
Segundo Priscilla Montes, educadora parental, um dos principais aspectos a serem considerados ao abordar a questão com os filhos é a faixa etária. Cada idade possui um nível específico de compreensão e retenção de informações. “Para cada idade, a forma de comunicação varia. No entanto, o que é universal é a honestidade. Quando mentimos, ensinamos as crianças a usar a mentira como mecanismo de defesa e a não confiar no ambiente familiar. Daí a importância da sinceridade”, explicou Priscilla.
Durante a primeira infância, que abrange os seis primeiros anos de vida, apesar das limitações de linguagem e compreensão, a verdade deve ser transmitida, levando em consideração o nível de compreensão de cada um. “Uma criança de seis anos tem a capacidade de entender que a mãe ou o pai está doente e que se trata de uma doença séria que pode causar limitações, mas que está sendo tratada e que a saúde vai melhorar”, enfatizou a educadora parental.
Na primeira infância, as crianças costumam ser naturalmente curiosas, pois estão em fase de desenvolvimento da compreensão do ambiente ao seu redor. Portanto, ao compartilhar informações sobre o câncer com elas, é normal que surjam perguntas. Priscilla destaca a importância de responder apenas às perguntas feitas pela criança, evitando explicações excessivas ou prematuras. “É crucial responder somente ao que a criança pergunta. Às vezes, tendemos a explicar demais e podemos acabar abordando tópicos que a criança ainda não está pronta para compreender. Especialmente na primeira infância, relatamos o que está acontecendo e aguardamos as perguntas, sem prolongar demais ou ser excessivamente concisos em nossas respostas”, explicou Priscilla.
Quem viveu o desafio de conversar com o filho sobre o próprio câncer foi a professora Raquel Rocha. Atualmente com 46 anos, ela conta que aos 41 descobriu um tumor na mama. Na época o seu filho João Pedro, com cinco anos, começou a se abalar com a doença quando viu a mãe perder seus cabelos devido à quimioterapia. “Ele falou: “mãe, você vai ficar careca? Não quero que fique careca”. E eu ouvia isso e chorava”, relembra. Junto ao marido, Raquel sentou com a criança para explicar que a queda dos fios era uma condição momentânea, causada por um remédio muito forte, mas que cresceriam novamente. “Às vezes ele ficava com pena, deitava no meu colo, mas não entendia muito bem ainda”, explica Raquel, que atualmente está no último ano de seu tratamento com comprimidos.
Veja também: Dia Mundial do Combate ao Câncer
Além de comunicar aos filhos sobre a nova realidade, é essencial também reconhecer e validar os sentimentos deles durante esse processo. O apoio e acolhimento resultam da validação das emoções e reações dos filhos. “Enfrentar essa situação juntos fortalece os laços familiares e ajuda a criança a enfrentar esse momento com mais segurança”, esclareceu a educadora parental. “Manter a família atualizada sobre o progresso da doença faz parte do processo, não apenas no momento inicial do diagnóstico. A falta de conhecimento ou o desconhecimento podem causar ainda mais angústia nas crianças”.
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